
A palavra cirurgia é nobre: apela a “fazedor de milagres” ou “aquele que salva vidas”. Agora Plástico? Plástico dá a sensação de “coisa falsa”, de fake. De algo “postiço” ou a fingir. E se juntarmos as duas? Se juntarmos as duas temos a especialidade médica mais bonita que existe: a única que junta saúde mental, arte criativa, engenharia anatómica e atrevo-me a dizer elegância e costura – a Cirurgia Plástica.
Digo que sempre soube que queria ser Cirurgiã Plástica. Quando analiso na minha mente como isto começou, dou por mim a lembrar-me de ficar atónica com a primeira vez em que vi a minha mãe costurar à máquina. Vivia em Coimbra, a minha mãe trabalhava como professora primária para Surdos na Escola de Tábua. Tinha como hobbie a costura, tal como a minha avó. O meu pai era médico, surdo, recém-formado, com um coração de engenheiro para ossos – tinha o sonho de ser ortopedista mas não conseguiu nota para a especialidade. Ficou-se pela clínica geral, pela construção de aviões em miniatura e a pesca. Mais tarde envergou pelas próteses dentárias, ortodentia, distração óssea e outras áreas da chamada “ortopedia dento-facial”- que nada mais é do que cirurgia que muda a forma – é plástica. Manteve uma paixão pela anatomia e pela medicina legal. Mas os dois, quando namoraram, teciam juntos tapetes de Arraiolos.
Pelo meio apaixonei-me pelas neurociências – área na qual escrevi o meu mestrado. E apaixonei-me pela força e vontade de vencermos todos os obstáculos quando temos um sonho. Mesmo que uma doença me tenha desafiado no percurso, aos 21 anos, mas me tenha mostrado que a fé e o alcance de acreditar não têm limites. Que devemos ser gratos. Que as pessoas morrem sozinhas nas enfermarias. Saí da cadeira de rodas, ganhei 15 kgs à custa dos imunossupressores, e reconstruir-me de novo.
Quando alcancei o final do curso, a minha entrada na especialidade foi o reviver da história do meu pai: não tive nota, não consegui, mas sabia que tinha dado o meu melhor (é um exame injusto que não mede competências). Aceitei seguir Medicina Geral e Familiar, inspirada no meu pai. Mas desde o segundo dia do ano de 2011 que sabia não pertencer ali.
Um ano e meio mais tarde, fruto de muito foco (e uma sorte que “dá muito trabalho” a que chamo “destino divino”) entrei na minha especialidade de sonho: a Cirurgia Plástica Reconstrutiva e Estética. Foi no dia em que o Papa Francisco iniciou funções: dia 13 de Março de 2013, o dia de anos da minha irmã. Um dos dias mais felizes (se não o) da minha vida. Deixei tudo para trás e mudei-me para aquela que seria a minha terceira cidade: Lisboa. Comecei no Hospital de Santa Maria no dia 1 de Abril (parecia mentira) e segui sempre com uma enorme felicidade e sentido de ajudar o outro naquela que é a especialidade que carinhosamente chamo de “psiquiatria cirurgica”.
A cirurgia plástica é a arte cirúrgica através da qual a análise psicologica e física permitem fazer arte. É um projecto artístico em que aquilo que parece bidimensional se torna trimensal. Atrevo-me a dizer que alcança outra dimensão – a modificação do soma tem efeito na psique. Verifica-se um fenómeno reconstrutivo externo e interno.Um biofeedback. E o limiar para o alcançar de forma positiva, ou negativa, é ténue.
Cirurgia significa explorar, pensar, dissecar, consertar.
Plastikus significa mudar a forma, reutilizar, reciclar, adaptar, não desistir.
Cirurgia Plástica significa arte. Significa Amor. Significa sofrer de claustrofobia do mundo e ser verdadeiramente livre, com asas e ar no meu /nosso palco dos sonhos – a The Dr Pure Clinic.